Depoimento
A primeira vez em que senti cócegas na minha vida.
Assim como boa parte das pessoas do mundo, eu desconhecia as práticas da massagem e da terapia tântrica em sua essência. Assim como boa parte das pessoas do mundo, eu assumia que ela estava relacionada somente a atividades e exercícios sexuais, desconsiderando toda a parte física e intrinsecamente ligada à espiritualidade. Somente consegui me desvencilhar desse senso comum no meio do segundo semestre de 2018, quando tomei certa coragem de me propor a passar por essa experiência.
Sempre fui bastante tímido, fechado e desconfiado. O contato físico era visto por mim como algo desnecessário e invasivo, e eu procurava evitá-lo ao máximo. Em consequência disso, a ideia de alguém tocando meu corpo e, talvez, minhas partes mais íntimas me fazia recuar diante de um bloqueio sem limites. Essa ideia me deixava inteiramente desconfortável, e minha cabeça não parava de martelar questões de medos e de traumas.
À época, eu estava namorando, e foi justamente minha companheira que acabou me convencendo a tentar ao relatar a sua própria experiência e me passar o contato de uma pessoa de confiança. Entrei em contato com essa pessoa depois de algumas semanas desde que tive o seu número em minhas mãos. Do primeiro contato à primeira sessão levaram ainda mais algumas semanas. Eu achava que precisava de tempo. Tempo para me preparar, para tentar relaxar, para assimilar a ideia de que eu estava me dispondo àquilo.
Quando chegou o dia, eu estava ansioso, preso num misto de sensações que ia da torcida para que o terapeuta não aparecesse à esperança de que eu começasse a superar os meus medos e os meus traumas. No fundo, era esse último tópico que me movia, e foi ele que acabou vencendo e me fez levar aquilo adiante. Eu simplesmente não podia continuar do jeito que estava. As coisas tinham que mudar, e eu tinha que começar a mudá-las.
Aquela experiência representava, então, a disposição para enfrentar a escuridão e caminhar por ela com alguma luz. Nem que fosse lascando uma pedra na outra para produzir algumas faíscas. Isso já seria o suficiente. Era melhor do que aquele medo do escuro, do vazio, do toque do outro, da aproximação do outro, do afeto do outro, do meu afeto, da vida, enfim. Eu precisava redescobrir a vida, e pouco a pouco me redescobrir vivo. Era preciso viver, e não simplesmente sobreviver. Foi com esse desejo (muito pretensioso, confesso) que eu fui encontrar o terapeuta para buscá-lo e trazê-lo até minha casa, onde ele me atenderia.
Quando chegamos em casa, ele preparou o ambiente para iniciar a sessão, me explicou como seria o início e então partimos para a prática. O início consistia na limpeza dos chakras através de um exercício intenso de respiração. Nunca suei tanto na minha vida mesmo parado. Tanto que após esse exercício havia uma poça d’água de suor abaixo dos meus pés no meio da sala da minha casa. Mas não foi somente o suor o que me chamou a atenção naquele exercício. Embora fosse ficando cada vez mais exaustivo, ele também estava me proporcionando outras sensações além do cansaço e da transpiração intensa. Havia, ali, algo mais, um relaxamento, um alívio, uma aproximação de algo bom, algo leve e luminoso. E quando chegou ao final dessa primeira parte da sessão, quando eu finalmente havia limpado os meus chakras, suado literalmente da cabeça aos pés, eu havia alcançado o êxtase. Um ser tipo de orgasmo mental que eu nunca tinha experimentado antes, nem nos momentos mais felizes da minha vida. Era como se eu estivesse à porta do paraíso. Era como se eu estivesse perto demais de Deus ou qualquer coisa correlata.
Para mim, aquele momento, aquela sensação, aquela experiência já era suficiente. A sessão já estava paga por tudo o que eu tinha experimentado, o suor e o gozo mental. No entanto, havia mais, havia ainda uma segunda parte. Essa segunda parte consistia em eu me deitar e receber a massagem, após meus chakras terem sido limpos. Foi aí que, no meio da massagem, que eu comecei a perceber estímulos estranhos no meu corpo. Algo que eu nunca tinha sentido antes, mas que estava sentindo agora. Algo que fazia com que minha boca ensaiasse sorrisos tímidos, mas incontroláveis. Foi então que me veio na cabeça, como a luz que acende após a lâmpada queimada ser trocada: “- Acho que é isso o que chamam de cócegas!”. Eu estava sentindo cócegas. Eu, que nunca havia sentido cócegas na vida, estava conhecendo e redescobrindo meu corpo aos 30 anos de idade. Era estranho, mas não era ruim. Era alegre, era o meu corpo. Era eu. E ali fiquei quando o terapeuta foi embora: estendido no colchão no meio da sala, suado, com alguns meios sorrisos eternos no rosto, em estado de graça, em estado do mais completo relaxamento que eu já havia alcançado na vida. Em estado de leves cócegas!
F. S.